Ressuscitação
As minhas emoções adoeceram.
Depois de tanto, deixei de lutar, deixei que a doença tomasse conta de mim por completo, desisti.
Decidi deixar-me morrer.
Depois de morta que mais me poderia ela fazer? A mais cobarde das doenças, aquela que não mostra a cara, que não sabemos muito bem se é carne ou peixe, não sabemos muito bem quem é nem de onde vem.
Nada mais me poderia afetar.
Porque eu deixei de desejar, de lutar, de querer, de fazer, de estar, de sonhar, deixei de acreditar e deixei de me importar.
Porque eu decidi deixar-me morrer também.
E como todos os outros assassinos, predadores, como todos os selvagens rudes insensíveis, desprovidos de emoções e consciência fazem quando matam as suas vítimas, não os que o fazem pela sobrevivência, como todos os outros, também este abandona a sua vítima assim que a vê morta e inanimada.
Então, a esperança renasceu em mim e obrigou-me a acreditar na ressuscitação.
Eu que já tinha morrido!
Agora surge-me este ínfimo laivo de esperança , quando vejo o sol. Quando o meu corpo combate a minha mente, sorrindo sem eu o mandar, afinal eu disse-lhe que tinha morrido.
Eu vi uma semente e eu sei que não há volta a dar. Sei que é o suficiente para eu voltar à vida.
Estou calma agora, não tenho pressa porque sei que vou viver outra vez. É irreversível.
O mesmo corpo que, sem me avisar, me quis matar, também ele, sem me avisar, me ressuscitou.
Di Art Blogger