O que não desejo.
Violência não é só com armas estalos ou pontapés.
Eu saltava, rodopiava e abanava o rabo, porque ele me trazia comida gourmet e a fidelidade canina é cega.
E quando dei por mim estava ali, mesmo perto do precipício. Enrolada em mim mesma, fazia já tanto tempo que me moldara aquela posição, não me conseguia erguer. Aninhada que nem uma cadela. Ferida.
Quando dei por mim. Tive pena. De mim.
Esperei que o pesadelo terminasse. Eu não estava ali ainda à pouco. Não podia ser realidade. Questionei a minha sanidade.
Eu estava sã.
Quis levantar-me e correr para trás. Quis gritar, mas estava muda, de incrédula, de medo.
Ouvi uma voz aguda – onde estava esta voz? - que me gritava como quem grita com uma cadela, comigo, que me dói ouvir quem grita assim com uma cadela, que me indigno. Como cheguei eu aqui? Porque ninguém se indignou por mim? Questionei a minha sanidade.
Eu estava sã.
Ninguém viu o que eu vi, ouviu o que eu ouvi, ninguém sentiu o que eu senti. Um tratamento silencioso. Se eu própria dei por mim ali, no precipício. Como haveria alguém de ver?
Ergui a cabeça e comecei a caminhar, não em direção ao precipício, ainda me restava a sanidade.
Fui puxada pelos cadeados que me acorrentavam.
Fiquei calada. Deixei de abanar o rabo, a comida gourmet já não me satisfazia mais.
Passei os dias a olhar aqueles cadeados. Alguns estavam velhos, com um pouco de força sabia quebra - los , outros foi preciso astucia para os abrir.
Quando ganhei forças, levantei-me. Libertei – me delicadamente de alguns cadeados, outros arranquei-os à força.
Mordi-lhe os tomates antes de correr - Like a bitch!
Di Art Blogger