Neste Processo de Recrutamento partilhei excertos do que li e ouvi, partilhei o que me fez rir e pasmar, mas para escrever a verdade, nem todo o processo foi assim, outros já fiz, e outros assim não o foram somente.
Recebi também bons Currículos, bem elaborados, diferentes e adequados, o que me permitiu passar á fase seguinte; entrevistas com bons candidatos, respostas interessantes e pessoas cativantes.
Nesta etapa, a da entrevista, testo as competências técnicas mas também tento – dentro das imensas limitações – perceber um pouco do perfil do candidatado, tentando perceber características de personalidade. Aqui, sinto na pele e vejo o que é estar desesperado por um trabalho, aqui nesta situação e neste gabinete, os homens choram mais facilmente que as mulheres - são eles que mais sentem a responsabilidade de levar o pão para casa – sinto impotência. Às vezes sinto-me pequenina perante as pessoas mais improváveis - por achar que não teria aquela coragem ou aquela força - sinto vergonha de mim diante de pessoas humildes que vivem felizes com pouco e que agradecem o que é delas por direito. Ouço histórias de vida dignas de aplausos, retiro aprendizagens de respostas e palavras sábias.
Escolhi uma pequena passagem para vos contar.
Repulsa.
A Entrevista está a correr bem. As competências estão quase todas lá e de certo modo enquadradas com o pretendido. Continuo:
- Vejo que neste momento esta empregada. Trabalha num gabinete de advogados. É administrativa. O que a faz querer trocar de emprego?
- Fica um pouco longe.
- É, aqui realmente fica um pouco mais perto, mas não é assim tão mais perto, isso é um problema para si?
- Não, não é bem isso é que eu não me sinto bem onde trabalho atualmente.
- Ah. Esta descontente. Não deve ter problemas em dizê-lo, para que se for o caso de aqui trabalhar, termos a certeza de que não vai acontecer o mesmo. É o vencimento, ambiente de trabalho?
- Olhe, eu vou ser sincera. Eu não suporto mais trabalhar lá no gabinete, ninguém aguenta muito tempo lá, o advogado só contrata estagiárias, algumas só lá estão dois ou três dias e vão-se logo embora. Ele precisa sempre de uma no gabinete ao lado dele para trabalhar, depois esta sempre a convidar e insiste para almoçar e jantar com ele, olha-nos de cima abaixo, tenta sempre tocar-nos nas mãos quando lhe passamos documentos. Nós fazemos de conta que não percebemos e tentamos sempre maneiras de recusar tudo, algumas dão-lhe letra e lá vão. Faz chantagem e quanto mais perto dos fins de contrato está mais chantagem ele faz. A uma estagiária disse: temos de ir jantar hoje para falar sobre o seu contrato. Ela não foi e o contrato não renovou. Outro dia disse-me, tem de começar a trabalhar de mini - saia, pode ser que isso a torne mais competente.
- Porque é que não fazem queixa dele, isso é assédio.
- A um Advogado?
(Silêncio)
- Porque é que não se despede?
- Eu vivo sozinha com a minha filha, tenho de trabalhar.
A minha vontade foi de passar este currículo para primeiro lugar no lote dos Currículos válidos.
A minha vontade de coração entristeceu porque à razão lhe deram nome.
No gabinete daquele advogado pode não reinar a justiça, mas aqui, no meu, no trabalho que faço, gosto sempre de a sentir, onde posso e até onde sei, e o justo aqui é o currículo ir para o seu devido lugar, no meio de outros que lá estão, outros quais eu posso não saber as suas motivações maiores, como acabei por saber sobre este.
Di Art Blogger